sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Das orgias dos tempos modernos e das TARAS antigas em tempo de Crise

Seria estranho... que um comentarista nos tempos que correm - se lembrasse: ao falar de um político - de referir que o mesmo usa fato e gravata.

O mesmo não seria de estranhar se tal político fosse da estrema esquerda... no entanto a notícia "Passos Coelho hoje usou fato, camisa e gravata" seria... estranha... e - se proposta para gerações futuras... muito mais...

Há certos momentos nos que - mesmo civilizações elaboradas: como o caso da Romana ou da Grega - apresentando certos padrões de COERÊNCIA (que chamamos erradamente de ética, moral e até deontologia nas profissões normativas) que - quando em período de DECADÊNCIA da "persona pública" em causa ou de um grupo social em particular - nos momentos mais bizarros - são logo relatados (e ironizados) pelos vários historiadores e biografos aos que nos hoje - pelas transcrições - sabemos terem sido objecto de escandalo e repulsa...

O que resulta curioso (e quem entende estas coisas - chega logo à raiz do porquê desta afirmação) é que - em qualquer estrutura onde existam seres humanos que gerem laços e padrões de relacionamento emocional, estando em estrutura social - tendem a comportar-se com definição harmoniosa de limites e sentido de temperança (ou harmonia);

Bacanais são bem conhecidos das celebrações dos rituais de Baco-Dionísio-Átis e Histórias de malfadados reis - vestidos de donzela para espiaro ritual prohibido aos homens - contam bem da crueldade e barbárie vividas no desenfreado ritual pois o Deus (a personificação do espírito da festa) a determinado momento faz com que lhe caia o disfarce e o dito rei grego é morto e dacapitado - levando a sua própria mãe a cabeça do desafortunado até às muralhas da cidade e - despertando do seu estado de consciência alterado - chorando amargamente o seu acto inconsciente fruto de se deixar apossar pelas potências (os ditos "titãs" pelos Deuses "domados")...

Assim - muito me espanta - que numa época de rebaixados valores... nos que se inventam novas histórias e se refazem mitos à maneira dos seus gestores - me digam que as tribos ditas "primitivas" utilizam também este tipo de ritual.

Faz-me lembrar uns certos occidentais - que, estando umas semanas ou meses entre grupos étnicos dispares - são logo iniciados nos mais profundos mistérios quando - os próprios e autóctones - levam uma vida de pertença e integração para o fazer...

Deve ser pelo "sex appeal" do louco e ignorante occidental - que, como bom taumaturgo - vem depois vender a banha da cobra a troco de uns tostões bem reais - em workshoppings e técnicas exóticas que grassam como ervas daninhas por todo o território nacional e além mar...

Os povos ditos "primitivos" - daquilo que conheço - na sua essência e no seu habitat natural - são bem humanos.

Estabelecem relações que permitem estabilidade (lá não há polícias, tribunais, psicoterapeutas ou terapeutas de casal, não há psiquiatras nem livros como "Os Homens são de Marte e as Mulheres de Vénus");

Não vêm filmes pornográficos e não se masturbam ao fim do dia com um cardápio de instrumentos bizarros para refinar a sua total ideossincrazia... eles - simplesmente são...

Estando em Timor - tive o privilégio de habitar três meses na montanha do enclave em território indonésio de Oe-Cusse.

Como "maioral" (havia um médico para 60.000 habitantes e eu exercia como um meio termo muito respeitado) tive ocasião de participar nas festas de desluto, barlak (acordo entre famílias sobre a pertença dos noivos à família de outrém) e casamentos... muitos casamentos!...

A determinada altura - numa das festas - dei por mim em que - os homens dançavam o "tebe" - dança típica na que - todos abraçados e em círculo - festejam a vida e a harmonia da aldeia e depois havia danças entre pares nas que - com toda a educação e sensibilidade do mundo, eles e elas disfrutavam da alegria da festa em honra ao jovem casal...

Eu - como não sei dançar a dois (ainda espero aulas de dança) pensei em dançar sozinho - logo comecei com o típico "batuque" occidental de distoteca de fim de semana e afins...

Bem - aquilo atraiu a atenção dos mais jovens e dos Catuas - guardiães ancestrais e chefes por direito - são os anciãos que nos roubaram os Romanos ao chamar "presbítero" a um padre de vinte e poucos anos que vai "orientar" toda uma comunidade...

Enfim - aqui a questão é que - com toda a delicadeza do mundo - me tocaram nop ombro e - gentilmente, num portugués acessivel - me pediram por favor para respeitar as tradições e dançar com uma senhora.

Eu assim fiz - calhei nos braços de uma senhora esposa de um pugilista: que tirava as tampas das "bintang" (cerveja Indonésia muito apreciada naquela região) com os dentes e - sem querer - recebi a minha primeira aula de dança estilo Timor - a voar nos braços de uma senhora mulher - que se divertiu imenso a dançar com o "Dr. Malae" (malae é estrangeiro);

Conclusão - para aqueles que trazem sexos e sexualidades e orgias na cabeça:

A repressão das sociedades leva aos extremos - a decadência das sociedades ditas "desenvolvidas" - muito mais...

Não é algo normal o que relatam os historiógrafos - são ABERRAÇÕES que eles fazem questão de notar em personagens de talante público que: na visão do cronista - deveriam ser exímios... mas não o são...

Meus caros - não vão descobrir a pólvora - nem em festivais à lua cheia, nem maytunas, nem em Tantras de ocasião, nem em workshoppings de fim de semana que vos ensinem técnicas que SÃO CAMINHO DE VIDA para gentes de outros lugares que nunca chegaremos a compreender - ainda que, na nossa arrogância - achemos que sim por termos uma certa visão de "patamar"... ou de cariz superior...

Estes - ignorantes - confundem tecnologia e informação com refinamento humano.

Nas montanhas de timor - entre homens e mulheres descalços, em casas feitas de folhas de palma entrançada e sólo de terra batida assisti aos gestos humanos mais profundos e ao sorriso de crianças, jovens e idosos mais livres do que em todo o nosso querido território com toda a sua suposta riqueza em bens materiais....

Dito isto - enganar, enganam-se os parvos, os que querem ser enganados e... tendo fome e sede de amar, aqueles desesperados que confundem uma carícia e todo o eco de vida que esta implica com algo realmente dado em sintonia e verdade... pois numa peça de teatro: com todo o seu espectáculo... sua música, seu decoro, seu ambiente e preparação... existe gesto semelhante... mas - na realidade - não está ali alguém REALMENTE a dar-te a mão...

Quando estiveres internado, num hospital esquecido - verifica... de entre todos esses com quem partilhas intimidade e pensas viver vida... entre todos: quantos te visitariam e quantos ficariam ali: mão em mão... até ficares bem... até regressares ao teu próprio salão de dança de vida a viver em plenitude e devoção?...


Em timor - não tinham orgias nem nada que se pareça - quando um adoece - a família não arreda pé até que o tal está plenamente restabelecido ou passa para o mundo dos espíritos... suponho que se chama "amor"... mas disso a nossa tecnologia pouco entende e os tempos determinados para spas, actividades de dança, workshoppings e passeios deixam pouco espaço para o cultivar profundo do verdadeiro sentido de família, comunidade e relação...

Eis a diferença - meus amigos: entre aquilo que é REAL... e aquilo que PARECE... MAS NÃO É;

SAÚDO